quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

INFORTUNIOS OCULTOS

      A caridade se manifesta nas grandes calamidades, pois é então que se vêem impulsos generosos para reparar os desastres. Mas ao lado desses desastres generalizados, há milhões de desastres particulares que passam despercebidos, de pessoas que jazem num cômodo sem lamentarem.
     São esses infortúnios discretos e ocultos que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que deles venha o pedido de assistência.
     Quem é esta mulher de ar distinto, vestida de maneira simples mas asseada, acompanhada de uma moça também vestida modestamente?
     Entra numa casa de sórdida aparência, na qual sem dúvida é conhecida, pois à porta saúdam-na com respeito, Aonde ela vai? Sobe até a mansarda: lá mora uma mãe de família cercada de filhos pequenos. À sua chegada a alegria brilha nestes semblantes emagrecidos. Ela vem acalmar todas essas dores, traz o necessário temperado de doces e consoladoras palavras, que fazem o benefício ser aceito sem causar vergonha, pois esses desafortunados não são mendicantes de profissão. O pai está no hospital, e durante esse tempo a mãe não pode suprir as necessidades. Graças a ela, esses pobres filhos não sofrerão nem frio nem fome; irão à escola agasalhados, e o seio da mãe não secará para os mais pequenos.
      Se há um doente entre eles, um cuidado material não a repugnará. Dali ela vai so hospital, para levar ao pai um abrandamento e tranquiliza-lo sobre o destino de sua família.
     Na esquina da rua, espera-a um veículo, verdadeiro armazém de tudo o que ela leva aos seus protegidos, que visita sucessivamente. Não lhes pergunta nem sua crença, nem sua opinião, pois para ela todos os homens são irmãos e filhos de Deus.
    Qual é seu nome? Onde ela mora? Ninguém sabe. Para os infelizes, é um nome que não revela nada, mas é um anjo de consolação. E, ao entardecer, eleva-se ao Criador um concerto de bênçãos, em favor dela: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.
    Por que essa roupa tão simples? É que ela não quer insultar a miséria com seu luxo. Por que ela se faz companhar de sua filha? É para ensinar-lhe como se deve praticar a beneficência.
    Sua filha também quer fazer a caridade. É assim que essa mãe verdadeiramente cristã, educa sua filha na prática das virtudes ensinadas pelo Cristo.

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