segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O DUELO

           Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que deve conduzi-lo a um fim, faz pouco caso das asperezas do caminho. Não se desvia um só instante do caminho reto; o olhar sempre dirigido ao termo, pouco lhe importa que as sarças e os espinhos da senda ameacem causar-lhe arranhaduras; roçariam nele sem atingi-lo, e nem por isso ele deixaria de prosseguir seu curso.
          Expor seus dias para vingar-se de uma injúria é recuar diante das provas da vida; é sempre um crime aos olhos de Deus; e se não fossemos enganados por nossos preconceitos, vingar-se seria uma ridícula e suprema loucura aos olhos de homem.
         Ninguém tem o direito, em caso algum, de atentar contra a vida de seu semelhante; sempre será crime aos olhos de Deus, que nos traçou uma linha de conduta.
        Enquanto uma gota de sangue humano correr na terra pela mão do homem, o verdadeiro reino de Deus ainda não terá chegado, este reino de pacificação e de amor que deve banir para sempre a animosidade, a discórdia e a guerra. Então a palavra duelo não mais existirá, senão como uma distante e vaga lembrança de um passado que não existe mais. Os homens não conhecerão entre si outro antagonismo senão a nobre revalidade do bem.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O ÓDIO

           Amai-vos uns aos outros, e sereis felizes.
          Sobretudo, tomai por tarefa amar aqueles que vos inspiram, ódio ou desprezo.
          O Cristo, a quem deveis tomar por modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento. Missionário de amor, ele amou ao ponto de dar seu sangue e sua vida. O sacrifício que vos obriga a amar aqueles que vos ultrajam e vos perseguem é penoso, mas é exatamente o que vos torna superiores a eles.
         Se vós os odiais como eles vos odeiam, não sois melhores que eles. Esta é a hóstia sem mancha oferecida a Deus no altar de vossos corações, hóstia de agradável odor, e cujos perfumes sobem até ele. Embora a lei de amor queira que se ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não protege o coração contra os maus procedimentos. Ao contrário, amar sendo odiado é a prova mais penosa. Mas Deus está aí, e  pune, nesta existência e na outra, aqueles que faltam à lei do amor.
       Não nos esqueçamos que o amor nos aproxima de Deus e o ódio nos distancia-se d'Dele.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A VINGANÇA

           A Vingança é um dos últimos vestígios deixados pelos constumes bárbaros que tendem a apagar-se entre os homens. Ela é, como o duelo, um dos últimos traços desses costumes selvagens sob os quais a humanidade se debatia no começo da era cristã. Por isso a vingança é um indício serguro do estado atrasado dos homens que a ela se entregam.
          Vingar-se é de tal forma contrário a esta prescrição do Cristo: "Perdoai a vossos inimigos", que aquele que se recusa a perdoar não é cristão.
          A vingança é uma inspiração tão funesta que a falsidade e a baixeza são suas companheiras assíduas. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Na maioria das vezes, reveste-se de uma aparência hipócrita, dissimulando profundamente em seu coração os maus sentimentos que o animam. Toma atalhos, segue o inimigo na sombra, sem que desconfie, e espera o momento propício para ferí-lo sem perigo para si; esconde-se dele, espiando-o sem cessar; prepara-lhe armadilhas odiosas e oportunamente derrama o veneno em seu copo.
         Quando seu ódio não chega a esses extremos, ataca-o então em sua honra e em suas afeições. Não recua diante da calúnia, e suas insinuações pérfidas, habilmente semeadas aos quatro ventos, vão se avolumando pelo caminho.
          O covarde que se vinga é cem vezes mais culpado que aquele que vai direto a seu inimigo e o insulta de rosto descoberto.
          Abaixo, pois, esses costumes selvagens! Abaixo esses modos de um outro tempo!
          (Jules Olivier)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

JESUS NÃO PROIBIU A DEFESA, MAS CONDENOU A VINGANÇA

      O próprio instinto de conservação, que é uma lei da natureza, diz que não é preciso estender benevolentemente o pescoço ao assassino. Jesus não proibiu  defesa, mas condenou a vingança.
      Dizer que se ofereça uma face quando a outra foi ferida é dizer, de uma outra forma, que não é preciso devolver o mal pelo mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que pode rebaixar seu orgulho; que é mais glorioso para ele ser ferido que ferir, suportar pacientemente uma injustiça que cometer, ele próprio, outra injustiça; que é melhor ser enganado que enganar, ser arruinado que arruinar os outros.
      É também, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não é outra coisa senão uma manifestação do orgulho.
      Só pela fé na vida futura e na justiça de Deus, que nunca deixa o mau impune, pode dar força para que se suportem pacientemente os golpes contra nossos intereses e nosso amor próprio. Por isso dizemos sem cessar: Dirigi vossos olhares para frente; quanto mais vos elevardes, pelo pensamento, acima da vida material, menos sereis ofendidos pelas coisas da terra.