A indulgência não vê os defeitos do outro, ou, se os vê, evita falar neles, divulgá-los. Ao contrário, encobre-os, para que só dela sejam conhecidos, e se a malevolência os descobre, sempre tem uma desculpa pronta a abrandá-los. Mas uma desculpa plausível, séria, nada daquelas desculpas que, tendo ares de atenuar a falta, na verdade a ressaltam com pérfida habilidade.
A indulgência nunca se ocupa dos maus atos do outro, a menos que seja para prestar um serviço, tendo ainda o cuidado de atenuá-los tanto quanto possível. Ela não faz observação chocante nem traz repreensão nos lábios, apenas conselhos, no mais das vezes velados. Quando lançamos críticas, que conclusão podemos tirar de nossas palavras?
Quando perdoarmos, estendamos um véu de esquecimento sobre as falhas. Esse véu muitas vezes é bem transparente. Mas levaremos junto o perdão e o amor. Vamos substituir a cólera que conspurca pelo amor que purifica.
Sejamos severos conosco e indulgentes com as fraquezas dos outros. Esta é uma prática de santa caridade que bem poucoas pessoas observam.
Todos temos más tendências a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar. Todos temos um fardo mais ou menos pesado que deve ser posto de lado para a escalada da montanha do progresso. Por que então sermos clarividentes com o próximo e cegos em relação a nós mesmos?
Como ninguém é perfeito, ninguém tem o direito de repeender o próximo.
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