quinta-feira, 23 de junho de 2011

TORMENTOS VOLUNTÁRIOS.

     O homem está sempre em busca da felicidade que lhe escapa sem cessar, porque a felicidade pura não existe na Terra. Entretanto, apesar de tudo, o homem poderia usufruir de uma felicidade relativa. Mas ele a procura nas coisas perecíveis, isto é, nos prazeres materiais, em vez de procurá-la nos prazeres da alma, que são um antegozo dos prazeres celestes, perenes.
     Em lugar de procurar a paz no coração, única felicidade real, neste mundo, é ávido de tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo. Parece criar para si, propositadamente, tormentos que só a ele caberia evitar.
    Há maiores tormentos que os causados pela inveja e o ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso: estão sempre em febre. O que eles não têm e outros possuem causa-lhes insônias; os sucessos de seus rivais dão-lhes vertigem; todo seu interesse só age no sentido de eclipsar seus vizinhos, toda sua alegria está em excitar, nos insensatos como eles, a raiva do ciúme em que estão possuídos.
    Quantos tormentos, ao contrário, evita aquele que sabe contentar-se com o que tem, que vê sem inveja o que não tem, que não procura parecer mais do que é. Ele é sempre rico, pois, se olha abaixo de si, em lugar de olhar acima, verá sempre pessoas que têm ainda menos. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. A calma em meio à tempestade da vida não é felicidade?   (Fénelon)

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