Se o amor ao próximo é o principio da caridade, amar a seus inimigos é sua aplicação sublime, pois essa virtude é uma das maiores vitórias sobre o egoísmo e o orgulho.
Amar a seus inimigos não é ter por eles uma afeição que não é natural. Pois o contato com um inimigo faz o coração bater de uma forma bem diferente do que com um amigo.
Amar os inimigos é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança. É perdoar-lhes, sem segundas intenções e incondicionalmente, o mal que os fazem.
É não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em lugar de desejar-lhes o mal.
É se alegrar, em vez de se afligir, com o bem que lhes acontece. É estender-lhes mão segura em caso de necessidade. É abster-se, em palavras e ações, de tudo o que pode prejudicá-los.
Enfim, é devolver-lhes sempre, ao mal, o bem, sem intenção de humilhá-los.
Qualquer um que faça isso cumpre as codições do mandamento: AMAI VOSSOS INIMIGOS.
Amar a seus inimigos é sem sentido para um incrédulo. Aquele para quem a vida presente é tudo só vê no inimigo um ser nocivo perturbando seu repouso, e acredita que só a morte do inimigo pode livrá-lo dele.
O próprio fato de perdoar lhe parece, em certos casos, uma fraqueza indigna de si.
Para aquele que crê, a maneira de ver é bem diferente, porque dirige seu olhar sobre o passado e sobre o futuro, entre os quais a vida presente é apenas um ponto. Ele sabe que, pela própria destinação da terra, deve esperar nela encontrar homens maus e perversos; que as maldades às quais ele serve de alvo fazem parte das provas que deve sofrer.
O homem que ocupa uma posição elevada no mundo não se acha ofendido pelos insultos daquele que vê como um seu inferior. Assim ocorre àquele que se eleva no mundo moral acima da humanidade material; compreende que o ódio e o rancor o aviltam e rebaixariam. Ora, para ser superior a seu adversário é preciso ter a alma maior, mais nobre, mais generosa.
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